2003
João Modé expressou nos dias 22 de julho a 04 setembro, na Sala Petrobras – arte contemporânea da Casa da Ribeira, o resultado de suas percepções da cidade, das coisas, das gentes de Natal, abrindo novos caminhos para nossa própria percepção. O trabalho do artista é impactante tanto para um olhar desconhecedor de arte contemporânea como o meu quanto para os já experimentados em sua arte.
A instalação ocupa todo o espaço da Sala. Entrar ali é já ser ator, elemento, personagem. Impossível, portanto, olhar de fora: como dizia Pascal, “nós estamos embarcados”, não há como deixar a cena durante a vida. Um longo tecido amarelo, espelhando o que seria a porta, obriga o visitante a se desviar para poder entrar. Um convite a olhar diferente?
O que se vê: uma disposição de objetos. Tábuas, toras, tapetes, tecidos e… linhas. Linhas formando teias entre a parede e os objetos. Fragilidade e força. Acasos, vínculos e simetrias. Finalmente, o olhar esbarra, num dos cantos da sala, no pequeno carretel amarelo. Dali em diante, inventei – e aceitei – o convite: no início era a linha e caberia ao meu olhar leigo e ingênuo tecer, alinhavar a Obra da qual já fazia parte.
Parece que a obra de João Modé faz perguntas. Quanto você é capaz de ver? O que deseja sentir? De que palavras pode vestir o que vê e o que sente? Qual é a tessitura do seu olhar? No fundo da sala, um vão de porta. Há outra cena. Ali, espaços vazios, muita luz, e um saco cheio de pedrinhas ou conchas, daquelas que encontramos na praia e juntamos para brincar. Cada um pode dispor das pedrinhas como lhe aprouver.
Talvez aí, nessa espécie de bastidor que não é menos parte da Obra, um sentido oculto para o todo: o lugar íntimo e reservado onde nossos destinos são decididos, onde os mundos são criados, onde o jogo permanece, indefinidamente, à espera de ser jogado.
Monalisa Carrilho de Macedo.