Gabriela Picoli, Luciano Zannette, Martinho Patrício, João Modé e Anderson Leão
2006
Adesão
As relações com o poder e seu sistema sempre estiveram presentes na arte. Isto fica mais nítido como pauta das referências na arte moderna. A relevância do consumo funcionava na época, ou por engajamento ou por revelação do status e contraposição à ordem, a motivação para número quase absoluto dos artistas. Os artistas criadores dessa exposição foram Gabriela Picoli, Luciano Zannette, Martinho Patrício, João Modé e Anderson Leão, que já ocuparam outras vezes a Casa da Ribeira.
As obras não refletiam um determinado aspecto econômico, mas estavam ou estão intrinsecamente ligadas com o modo como eram produzidas, o lugar onde eram postas em circulação e exibidas ao público. Esses aspectos determinavam os papéis dos mais diversos atores do campo da arte e os mecanismos que colocavam “a imagem da arte” em destaque, incluindo sua propagação e valoração.
Um esquema cujo mecanismo produção-distribuição-consumo foi transportado dos bens materiais e assumia importância também para os bens simbólicos. Surge aí, uma discussão sobre os intermediários das expressões artísticas; entre o artista e sua obra e o público. Os marchands que se encarregavam de propagação, provocação à compra e incitação ao consumo são exemplos desta relação. Hoje as instituições-galerias assumem o papel de intermediários, tornando-se atores relevantes nos mecanismos da produção artística.
Por outro lado, o público menos especializado-empregado de uma visão “romântica” ainda percebe o artista como um ator desinteressado de qualquer enriquecimento, preso à “criação livre” e afastado desses mecanismos de lucros reais. Entende a arte como oriunda do sofrimento e da inspiração da alma do artista e acusa os intermediários de explorar o produtor. Aqueles, por sua vez, afastam do artista a consciência do valor e destino de sua produção.
Numa tentativa de intermediação alternativa, surgem, por exemplo, as redes de relação entre espaços independentes e artistas. Entretanto, essas redes ainda dependem de partes do sistema, que mesmo funcionando de maneira alternativa precisam de peças fundamentais para seu funcionamento. Patrocínios, apoios culturais, por exemplo, são necessários para colaborar com essas redes que, afastadas de interesse direto de comercialização, prescindem de financiamento para acontecerem.
A necessidade de ocupar o espaço da sala de exposições e a falta absoluta de recursos, para atender a programação deste ano, não podia nos paralisar. Gráfico Adesivo é exemplo disto. Nós da Casa da Ribeira, intermediários, propusemos a cinco artistas uma possibilidade de fazer acontecer, com o possível.
Assim, o Cráfico Adesivo nos possibilita refletir e nos aponta novas estratégias – para nós pelo menos. O mecanismo encontrado: proposição do conceito – limitação do material – produção das obras à distância com a tecnologia possível e o resultado da mostra foi nossa alternativa, foi resultado das parcerias e da resistência. O público teve acesso à exposição de 18 de julho a 13 de setembro de 2006. O uso do adesivo – material banal, usado costumeiramente na publicidade, dita hoje como a arte do consumo é nossa metáfora.
Cráfico Adesivo, Gustavo Wanderley, Curador da Sala Petrobras arte contemporânea.