2007
As tecnologias, ao mediar a experiência humana, contribuem para formar novas visões de mundo. No percurso da história da fotografia, elas renovam possibilidades de experimentos, propondo a revisão de técnicas e conceitos. Helga Stein é expoente da geração que busca formas híbridas de expressão nos aparatos tecnológicos, na velocidade dos meios, na transformação vertiginosa do real em ficção e na ironia com que trata a crença nas imagens.
Os autorretratos que se tornam retratos de outros, ou a geração de criaturas que revelam e humanizam personas da criadora, trazem à luz seres que soam familiares, verossímeis. Esse processo de reconstrução, contudo, não nos reporta a uma ficção. Aqui nada é o que parece ser.
A “cirurgia” feita pela artista não deixa transparecer cicatrizes do passado. Ao cabo, esses seres ganham um grau de realismo que a própria matriz não possuía. Ao adotar um processo correlato à fabricação dos ícones da beleza idealizada, produzidos pela publicidade e pela mídia de massa, essa ficção torna mais genuína nossa vacilante noção de realidade. Ficções pasteurizadas. Vertigens documentais para o consumo imediato. Imagens manipuladas perdem sua origem, localização e espaço. Uma fratura na gênese da fotografia.
Se fotografias não servem para atestar o momento e lugar, para que servem? Talvez para questionar nossa crença no realismo. Se nossas certezas nas imagens tendem a esmorecer é porque passamos tempo demais desprezando a imagem- imaginação. Helga e suas personas, de existência restrita à imagem, pulsam intensamente no mundo da expressão. A exposição ficou acessível de 18 de maio a 1 de julho de 2007.
Eder Chiodetto