2003
É preciso, para se ver realmente a obra de Efrain, abrir mão de polarizações simplificadoras. Nem ‘arte latino-americana’ nem modernismo formalista. E por último, por que também não lançar um olhar mais singularizado ao nordeste, a sua estética e a sua cultura? O catolicismo ali não se reveste da exuberância, do fausto do barroco mineiro. Nesse sentido, poderíamos pensar mesmo num universo medieval. Há uma escassez de meios, uma severidade cabralina, mas que ao mesmo tempo não elimina em nada a fantasia popular. Daí, os falsos rubis implantados nas chagas das estátuas de Cristo, as gotas de sangue de veludo vermelho, os altares onde às imagens santas misturam-se fotos de galãs de telenovelas. Não o ouro, mas o lirismo da miçanga parca, do colar que não pode dar três voltas, árido enfeite. Mas ainda assim adorno, ornamento, homenagem.
A vaidade de Maria Bonita e Lampião. Joia de latão, miçanga de plástico, o nordeste visível, re-apresentado. “Pés” de Efrain de Almeida foi exposto de 12 de março a 27 de abril de 2002.
Ana Teresa Jardim Reynaud.
Maio de 2000.